sábado, 8 de dezembro de 2012

PSICOPATAS. PARA SABER MAIS...

A reportagem saiu na edição de Maio de 2011 e traça um perfil detalhado desse inimigo íntimo que até come do seu pão, mas um dia certamente vai colocar o calcanhar sobre o seu pescoço, que o diga o Rei Davi e tantos outros que sentiram na pele a dor da traição. No caso dos psicopatas, não é só isso, de bônus ele planejou te matar em algum ritual macabro, ele já fez outras vezes, você não é a primeira nem será a última vítima a não ser que alguém o faça parar.
Aqueles seial killers que a gente vê nas séries como CSI, Criminal Minds ou Dr. Hannibal, eles existem de verdade e um deles pode estar aí bem do teu lado e falando palavras bonitas ao teu ouvido. CUIDADO!
Psicopatas S.A.
Ele vai a todo happy hour, é companheiro de cafezinho e ouve você reclamar do salário. Não confie tanto nesse colega de firma - é 4 vezes mais comum encontrar psicopatas nas empresas do que na população em geral
por Mauricio Horta
Luana conseguiu o emprego com que sempre sonhou. Era em uma empresa farmacêutica conhecida por seu ambiente competitivo, mas também por bons salários e chances de crescer profissionalmente. Nova no escritório, logo ficou amiga de Carlos, um sujeito atencioso de quem recebeu até umas cantadas.

Em poucos meses, apareceu a oportunidade de Luana liderar seu grupo na empresa. Parecia bom demais não fosse uma inquietação ética. Ela desconfiava que a companhia garantia a venda de seus produtos graças a subornos a médicos. Isso incomodava tanto Luana que, durante um intervalo para um lanche, ela desabafou com o amigo Carlos. Ele também parecia indignado com a situação. Seria uma conversa normal entre colegas de trabalho - se Carlos não tivesse se aproveitado. Em um momento de distração de Luana, ele pegou o celular da colega e ligou para o chefe de ambos. Caiu na secretária eletrônica, que gravou toda a conversa seguinte entre Carlos e Luana. A moça, grampeada, chegou a questionar se o chefe poderia ter algo a ver com os subornos. Acabou demitida por justa causa. Carlos tomou o lugar de líder que seria dela.

A história é real (os nomes foram trocados). E esse Carlos, um cretino, não? Na verdade é pior: ele age exatamente como um psicopata. Há 69 milhões de psicopatas no mundo, o que dá 1% da população em geral. Então, no fim da história, Carlos faz picadinho de Luana, certo? Errado. Sim, há muitos psicopatas violentos, como Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes ou Pedrinho Matador, que afirmava ter assassinado mais de 100 pessoas. Por isso a cadeia é um dos dois lugares em que se encontram muitos psicopatas. Eles são 20% da população carcerária e 86,5% dos serial killers. Mas um psicopata não necessariamente vira assassino. Na verdade, ele vai atrás daquilo que lhe dá prazer. Pode ser dinheiro, status, poder. É por isso que outro lugar fértil em psicopatas, além da cadeia, é a firma.

Pode ser uma empresa pequena, como a loja de sapatos da esquina. Pode ser uma fundação, uma escola. O importante é que o psicopata enxergue ali a chance de controlar um grupo de pessoas para conseguir o que quer. Mas poucos lugares dão tanta oportunidade para isso do que uma grande companhia. "Psicopatas são atraídos por empregos com ritmo acelerado e muitos estímulos, com regras facilmente manipuláveis", diz o psicólogo Paul Babiak, especialista em
comportamento no trabalho.

Até 3,9% dos executivos de empresas podem ser psicopatas, segundo uma pesquisa feita em companhias americanas. Uma taxa de psicopatia 4 vezes maior do que na população em geral. Eles não matam os colegas, mas usam o cargo para barbarizar. Cancelam férias dos subordinados, obrigam todo mundo a trabalhar de madrugada, assediam a secretária, demitem sem dó nem piedade. Isso quando não cometem crimes de verdade. Um terço das companhias sofre fraudes significativas a cada ano, de acordo com uma pesquisa de 2009 realizada pela consultoria PriceWaterhouseCoopers, que analisou 3 037 companhias em 54 países. Por causa dessas mutretas, cada uma perde, em média, US$ 1,2 milhão por ano. Muitos desses golpes podem ser obra de psicopatas corporativos.

"Eles são capazes de apunhalar empregados e clientes pelas costas, contar mentiras premeditadas, arruinar colegas poderosos, fraudar a contabilidade e eliminar provas para conseguir o que querem", diz Martha Stout, psiquiatra da Escola Médica de Harvard por 25 anos e autora do livro Meu Vizinho É um Psicopata. E fazem isso na cara dura, como se não estivessem nem aí para o sofrimento alheio. É que, na verdade, eles não estão ligando nem um pouco mesmo.

Como os colegas mais violentos, os psicopatas de colarinho branco não pensam no bem-estar dos outros, nem sentem culpa quando pisam na bola. Por isso passam por cima de regras, estejam elas formalizadas em leis ou somente estabelecidas pela ética e pelo senso comum. Acontece que o cérebro deles é diferente de um cérebro normal. No caso do psicopata, a atividade é maior nas áreas ligadas à razão do que nas ligadas à emoção, o que o faz manter-se impassível diante de tragédias - seja um gatinho em apuros, seja uma chacina em um orfanato. (veja mais no quadro da página 53). Como não consegue se colocar no lugar dos outros, o psicopata usa e abusa dos amigos - puxa o tapete dos colegas sem se preocupar com código de conduta corporativo ou consequência na vida alheia.


Pega na mentira


Graduação em universidade concorrida. Pós-graduação no exterior. Livros publicados. "Empregadores sabem que 15% ou mais dos currículos enviados para cargos executivos contêm distorções ou mentiras deslavadas", afirma Babiak. "Psicopatas fazem isso. Podem fabricar um histórico feito sob medida para as exigências do trabalho e bancá-lo com referências falsas, portfólio plagiado e jargão apropriado." Claro, com algumas perguntas específicas um entrevistador é capaz de desmascarar candidatos mentirosos. O problema é que um psicopata tem tudo para deitar e rolar em uma entrevista de emprego.

Muitas vezes o entrevistador não está tão preocupado com o conhecimento técnico do candidato. Quer mais é saber se ele é capaz de tomar decisões, relacionar-se com pessoas, motivar equipes. "A ‘química’ entre candidato e avaliador tem muita importância", diz o psicólogo. E aí um psicopata conta com um trunfo maior do que qualquer MBA: tranquilidade. Ele não vai passar horas em frente ao espelho decidindo a melhor roupa para a entrevista. Nem vai sentir as mãos suarem por medo da conversa. Um psicopata terá a segurança necessária para engabelar o avaliador, usando alguns termos técnicos, um punhado de histórias de competência no
trabalho e um sorriso aberto que dirão em conjunto: "Sou a pessoa certa para a vaga".

O segredo desse charme todo está em saber "ler" as pessoas. Psicopatas podem não ter emoções, mas conseguem analisar muito bem como e por que as outras pessoas se emocionam. São estudiosos da natureza humana, prontos a usar o que aprenderam para o próprio interesse. Descobrem os hábitos e gostos dos colegas, se aproximam, criam um vínculo aparente. Assim conseguem convencer a colega de coração mole a fazer o
trabalho por eles no fim de semana. Ou extrair informações sigilosas da secretária do presidente. Ou botar a culpa nos outros pelos problemas que aparecem. Aquela concorrente obstinada e perfeccionista conseguiu se promover trabalhando até as madrugadas? Ela não ia gostar de ouvir que é uma folgada e só conseguiu aumento se engraçando com o chefe. Bingo: basta espalhar essa história por aí para atingi-la. Desequilibrada pelo fuxico, ela poderia se tornar em breve um obstáculo a menos.

Atitudes assim passam despercebidas em empresas que estimulam a competição entre os funcionários. Se a companhia está obcecada pelos resultados que cada empregado gera, é possível que não preste tanta atenção ao cumprimento da ética no
ambiente de trabalho. Movida a competitividade, a empresa americana de energia Enron foi do estrelato ao fundo do poço por causa de fraudes cometidas por executivos do mais alto escalão. A empresa começou o ano de 2001 como uma gigante, com faturamento de US$ 100,8 bilhões. Seus empregados sabiam que precisavam trabalhar como loucos. Todo semestre, um ranking interno nomeava os 5% melhores funcionários. Em seguida vinham os 30% excelentes, os 30% fortes, os 20% satisfatórios e, por último, os 15% que "precisavam melhorar". Se não melhorassem até a próxima avaliação, eram mandados para o olho da rua. E quem avaliava as pessoas? Os próprios colegas. O sistema parecia impulsionar a produtividade. Até que descobriram que a competição impulsionava mesmo eram falcatruas para garantir uma boa posição interna. No fim de 2001, fraudes que somavam US$ 13 bilhões engoliram a empresa. A Enron faliu. "Algumas compa­nhias competitivas contratam pessoas tão agressivas e ambiciosas que acabam deixando para trás questões importantes do mundo da moral", afirma Roberto Heloani, psicólogo social e professor de gestão da FGV de São Paulo e da Unicamp.

Ainda que a companhia ofereça um ambiente propício à trairagem, o psicopata precisa procurar a hora certa para agir. Vítima de Carlos, Luana teve seu momento de fraqueza - bobeou, dançou. Empresas também têm seus momentos de fraqueza. Quando uma companhia compra um concorrente, seu caixa fica pobrinho, vazio. Muito dinheiro saiu de lá, e os acionistas estão ansiosos para saber quando o gasto dará retorno. O que algumas fazem, então? Procuram alguém capaz de produzir um milagre e encher o cofre de novo rapidinho. É aí que o psicopata se apresenta como o melhor gestor. Claro que é mentira - ele apenas tem maior capacidade de manipular sua imagem e vender ilusões. "Sem tempo para fazer uma análise minuciosa, as empresas compram essa imagem", diz Heloani.

Outra chance de dar o bote: crise na firma. Essa é a hora, geralmente, em que é preciso cortar gastos. E os chefes são pressionados a ser agressivos. Cortar despesas em 20%, 30% não é fácil. Quer dizer, se você for frio, não tiver medo das consequências nem se importar com os sentimentos alheios, até fica moleza. Coloque comida vencida no refeitório da firma para alimentar os funcionários.
Fraude a contabilidade e entregue relatórios que escondam gastos e aumentem a receita - e o problema fica resolvido apenas com uma canetada.

Quando não houver mais o que chupinhar, o psicopata simplesmente sai do emprego. "Talvez você não tenha o emprego mais interessante do ponto de vista financeiro, mas pode preferir ficar na empresa por causa das relações afetivas com os colegas e com seu
trabalho. Já um psicopata dificilmente cria vínculo", afirma Heloani. E se for pego antes de sair? Simples: ele mente. Culpa os outros, as circunstâncias, o "sistema", o destino, ou a própria empresa. Inventa um sem-número de desculpas que acabam atingindo seus rivais e eventuais "traidores".

Bernard Madoff culpou a crise econômica, o próprio sucesso e até suas vítimas pelo esquema que montou com um banco de investimentos nos EUA - e que fez seus clientes perderem US$ 65 bilhões. "Os bancos e fundos deviam saber que havia problemas ali", disse em entrevista a uma revista americana. Incapaz de sentir remorso, charmoso a ponto de ter cativado presidentes de bancos como Santander e Credit Suisse e incapaz de se colocar no lugar de suas vítimas ("Que as minhas vítimas se ferrem. Eu as sustentei por 20 anos e agora tenho de cumprir 150", teria dito na prisão), Madoff já foi apontado por especialistas em crime como um psicopata. (Ele, no entanto, afirmou à imprensa americana ter sido diagnosticado como normal por sua terapeuta.)

Madoff fez carreira como o homem que cuidava dos investimentos dos milionários. "Tio Bernie", como era conhecido, fazia mágica: mesmo quando a economia estava em baixa, prometia um rendimento de 8%, 12%, 15% por ano a seus clientes. Como a história colava? Madoff sabia o que os clientes queriam: investir com alguém que era parte do mundo deles. Esbanjava luxo, com direito a iate na Riviera francesa (US$ 7 milhões), noites no hotel Lanesborough de Londres (US$ 11 600 a diária) e jatinho da Embraer (US$ 29 milhões). Isso fez com que ele conseguisse clientes de peso. E o nome deles serviu para atrair novas vítimas. Com o dinheiro que entrava, Madoff pagava clientes antigos que quisessem sacar os investimentos. Era um esquema de pirâmide. Só funcionaria enquanto a base seguisse alimentada por novas vítimas. Isso inevitavelmente pararia uma hora. E a hora de Madoff foi a crise econômica de 2008. Quando investidores tentaram retirar de uma vez US$ 7 bilhões de seu fundo, ele simplesmente não tinha a grana. O herói de Wall Street acabou desmascarado.
10 pistas para identificar um psicopata

Só um psiquiatra conseguiria dar o diagnóstico certo. Mas, se algum colega de firma tiver esses traços, dá para suspeitar

Relacionamentos
Superficial
Não se importa com o conteúdo, e sim em como vendê-lo.

Narcisista

Preocupa-se apenas consigo mesmo.

Manipulador

Mente e usa as pessoas para conseguir algo.

Sentimentos


Frieza
É racional e calculista, pois tem pouca atividade no sistema límbico, centro de emoções como medo, tristeza, nojo.

Sem remorso

Não sente culpa. A parte responsável por isso no cérebro tem baixa atividade.

Sem empatia

Não consegue se colocar no lugar dos outros.


Irresponsável

Só se compromete com o que lhe trouxer benefícios.


Estilo de vida


Impulsivo
Tenta satisfazer as vontades na hora.
Incapaz de planejar

Não estabelece metas de longo prazo.

Imprudente

Corre riscos e toma decisões ousadas.

Fonte Without Conscience, Robert Hare.

Mal de chefe

Psicopatas podem estar em qualquer nível hierárquico, desde que o cargo lhes traga algum benefício. Mas é mais provável que eles estejam no topo.

Em 2010, 203 executivos de 7 companhias americanas foram avaliados pelo psicólogo Paul Babiak. O resultado revelou aquela estatística que você viu no começo da reportagem - 3,9% dos entrevistados tinham pontuação suficiente nos testes de Babiak para ser diagnosticados como psicopatas. Onde estavam os casos mais graves? No alto escalão: 2 vice-presidentes e 2 diretores.

Por quê? É mais fácil enrolar em cargos de liderança. Um gestor precisa saber liderar a equipe, motivar os funcionários, relacionar-se com fornecedores e parceiros. Já um técnico precisa entender do negócio da empresa - negociar preços, saber como anda o mercado, apresentar as melhores estratégias ao chefe. No estudo de Babiak, ficou claro que os psicopatas não querem saber de trabalhar. A pesquisa usou dois grupos de habilidades para avaliar os executivos: um ligado ao plano das ideias (comunicação, criatividade e pensamento estratégico) e outro relacionado a produtividade (gerenciamento, liderança, desempenho e
trabalho em grupo). Quão mais alto o grau de psicopatia de um executivo, pior foi a nota dele no grupo de produtividade.

Não é difícil para um psicopata fazer carreira dessa forma. Foi assim com Skip (nome fictício). O menino cresceu em um internato nos EUA, em Massachusetts, porque a família estava cansada de lidar com o capetinha - ele roubava dinheiro de casa para comprar fogos de artifício e matar sapos. Skip teve uma vida acadêmica medíocre e fez MBA em uma instituição mequetrefe. Aos 26 anos, entrou em uma empresa de equipamentos de mineração. Não demorou para se destacar. Seus chefes viram nele um talento para motivar vendedores e influenciar compradores. Com seu charme, tornou a empresa a terceira maior do setor no mundo. Até ganhou uma Ferrari de bônus da companhia pelo resultado. Aos 30 anos, Skip se casou com a filha de um bilionário. Mas dava suas puladas de cerca. Seis anos mais tarde, era presidente da divisão internacional da empresa, membro do conselho diretivo e pai de duas meninas. Não sem alguns tropeços: a empresa teve de dar uma indenização de US$ 50 mil a uma secretária depois de Skip quebrar o braço da moça ao forçá-la a sentar-se em seu colo. Mas esse e outros processos por assédio sexual não eram nada perto dos lucros que ele gerava. Aos 51 anos, virou o presidente da empresa. Merecido: ele fez a companhia ganhar dinheiro. Quer dizer, mais ou menos. Nos bastidores, Skip desviava dinheiro. Em 2003, foi acusado formalmente pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA por
fraude. "Ele não sente nenhum apego emocional aos outros. Nenhum mesmo. Ele é frio como gelo", diz Martha Stout, que relata a história de Skip em Meu Vizinho É um Psicopata.

A esta altura é possível que você tenha se lembrado daquele colega de
trabalho folgado. Ou do chefe que manda você fazer todo o trabalho dele. Será que são psicopatas? Pode ser que sim, mas considere também a possibilidade de eles terem outro tipo de transtorno psiquiátrico.

Tem executivo por aí tão doido quanto paciente de manicômio. As psicólogas forenses Belinda Board e Katarina Fritzon, da Universidade de Surrey, no Reino Unido, analisaram 39 executivos de alto escalão e os compararam com presos psiquiátricos, um grupo em que a prevalência de transtornos de personalidade é 7 vezes maior do que na população em geral. A descoberta foi uma surpresa. Os executivos se mostraram mais doidos do que os presos psiquiátricos em 3 de 11 transtornos pesquisados: narcisismo (gente que precisa de admiração o tempo todo e não se preocupa com os outros), transtorno de personalidade histriônica (pessoas que gostam de se exibir e manipular os outros) e transtorno compulsivo (pessoas perfeccionistas, com tendências ditatoriais e devoção exagerada ao
trabalho). A boa notícia é que o nível dos transtornos ligados à psicopatia era mais alto entre os criminosos psiquiátricos do que entre os executivos entrevistados.

Qual é a razão desse resultado? Simples. Certos traços desses transtornos são valorizados em cargos de liderança - como agressividade, autoconfiança, liderança. Isso dá certa vantagem a quem é narcisista e perfeccionista. Por isso, não saia acusando seu chefe de ser um psicopata. Ele pode ser doido. Ou simplesmente um cretino. 

O canto do psicopata
Os xavecos que ele usa para manipular os colegas


"EU GOSTO DE QUEM VOCÊ É"

Por que funciona - O psicopata mostra admiração pelo talento e pelos pontos fortes da vítima. E passa a ser visto como um dos poucos a reparar verdadeiramente no potencial dos colegas.
"EU SOU COMO VOCÊ"

Por que funciona - O psicopata identifica características da personalidade da vítima e faz de conta que compartilha gostos e interesses.

"SEUS SEGREDOS ESTÃO SEGUROS COMIGO"

Por que funciona - A vítima, achando que está diante de um amigo, abre o coração e conta medos e expectativas.

"SOU SEU AMANTE/AMIGO IDEAL"

Por que funciona - Último estágio da manipulação. O psicopata cria um elo psicológico que promete uma relação duradoura. A vítima já está em suas mãos.

Para saber mais:

Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work


Paul Babiak e Robert Hare, Harper Collins, 2006.


Without Conscience


Robert Hare, The Guilford Press, 1993.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Existem espécies que se reproduzem sem a participação dos machos?

Espécies de lagartos se reproduzem por partenogênese, sem a participação do macho.

A maioria das espécies de lagartos se reproduz assim. No sudoeste dos Estados Unidos, e no norte do México, vive uma espécie de lagarto (Cmenidiphorus uniparens), formada somente por fêmeas que se reproduzem por partenogênese ou seja, sem a participação de machos. Nesse tipo de reprodução, cada fêmea é um clone: as filhas são geneticamente idênticas à mãe. A partenogênese pode não ser muito romântica, mas tem lá suas vantagens uma delas é dar à espécie um potencial maior de crescimento demográfico. É lógico, afinal, todos os lagartos, e não apenas cerca da metade, são capazes de colocar ovos. Mas, o que chama a atenção na reprodução dos Cmenidiphorus uniparens, especificamente, é a simulação do ato sexual; um lagarto se comporta como a fêmea que de fato é; outro age como se fosse macho monta sobre a parceira, enroscando-a com o rabo. A cada duas semanas, aproximadamente, os papéis se invertem: o aumento acentuado da quantidade de progesterona o hormônio que regula o crescimento dos ovários no organismo da fêmea que acabou de pôr ovos indica que chegou sua vez de representar o macho. Passadas mais duas semanas, seus ovários estão crescidos e começam a secretar outro hormônio, o estrógeno: é o sinal de que deve reassumir o verdadeiro papel de fêmea. Qual a finalidade desse teatro todo para reprodução? Segundo o professor David Crews, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, as fêmeas Cmenidiphorus uniparens ovulam com mais facilidade , quando há outras fêmeas por perto, imitando machos

terça-feira, 5 de junho de 2012

HISTÓRIA DA LÍNGUA ESPANHOLA


A língua espanhola é o resultado de mais de 1000 anos de evolução, nos que as diversas línguas dos habitantes da península receberam a influência dos romanos e os árabes. Ao final do século XV, com a união das monarquías de Castela e Aragão, que extenderam seu dominio por grande parte da península, o castelhano se impulsionou sobre os demais idiomas e dialetos; ademais cruzou o Atlântico nos barcos dos conquistadores e misioneiros.
A colonização espanhola do século 16 levou a língua as Américas, aos Estados Federais de Micronesia, Guam, Marianas, Palaos e Filipinas.
O Latim vulgar que falavam os exércitos romanos e os colonos na antiga Espanha, foi a base de muitos dos dialetos que se desenvolveram depois em várias regiões do país durante a Idade Média. O dialeto de Castela, ou Espanhol de Castela, foi pouco a pouco se transformando na língua padrão pelo dominio político de Castela no século 13.
A maioria das palavras do Espanhol são derivadas do Latim, mas algumas vêm de outras línguas pré-latinas, como o Grego, o Euskera ou o Celta. Com a invasão dos Visigodos, no começo do século V, algumas palavras de origem Germana também foram incorporadas. A conquista dos Árabes, 3 séculos mais tarde, introduziu palavras da língua árabe (algumas facilmente reconhecíveis pelo prefixo "al").
A influência dos eclesiásticos franceses do século 11 e dos peregrinos que iam para Santiago de Compostela, fez com que se incorporassem à língua muitas palavras e frases da língua francesa. Durante os séculos 15 e 16, devido a dominação da Itália por parte dos Aragones, a Espanha recebeu também influência da língua italiana e se viu influenciada pela moda da poesía italiana. A relação da Espanha com suas colônias permitiu a introdução de novos termos de línguas nativas americanas e de outras fontes. Os estudos e investigações aumentaram também consideravelmente as influências de outras línguas.
Na América, os descendentes dos espanhóis, os espanhóis criolos e os mestiços seguiam utilizando a língua. Depois de que as guerras da independência liberaram estas colônias no século 19, as elites existentes estenderam o uso do espanhol a toda a população para reforçar a unidade nacional.
A Real Academia da língua espanhola se fundou em 1713. Estabelecia os critérios para sancionar os neologismos e para a incorporação de palavras de âmbito internacional.
A gramática espanhola se normalizou durante este período e a literatura espanhola foi muito prolífica, devido a expressão de liberdade que permitia aos escritores e falantes utilizar a língua sem seguir regras determinadas para a ordem das palavras, criando assim diversos estilos literários.
 O século testemunhou uma grande mudança no uso do Espanhol. A língua espanhola incorporou muitos neologismos, alimentados pelos avanços tecnológicos e científicos. Desde os clássicos: termômetro, átomo e psicoanálisis a os modernos e apenas hispanizados: filmar, radar, casete, PC e módem.
Dentre as várias línguas faladas, o espanhol se destaca por ser a segunda língua nativa mais falada no mundo e a primeira mais falada nas Américas. O Espanhol é muito parecido com o português e ao mesmo tempo é muito diferente, o que na maioria das vezes causa confusão durante a tradução.
Muitas pessoas pensam que por línguas serem parecidas, a compreensão da língua espanhola é muito fácil - se você sabe falar Português consequentemente sabe traduzir a língua espanhola. Essa familiaridade entre as línguas gera a maioria dos erros de tradução, pois há palavras em Espanhol que são escritas exatamente como algumas palavras em Português, mas apresentam significados distintos.
ESPANHOL X CASTELHANO
Há também muitos que pensam que Espanhol e Castelhano são línguas totalmente diferentes, mas isto não é verdade. De acordo com o dicionário normativo da Real Academia Espanhola, trata-se de termos sinônimos. 
As denominações Espanhol e Castelhano surgiram em épocas diferentes. O termo castelhano é mais antigo. Ele remonta ao reino de Castela, na Idade Média, quando a Espanha ainda não existia.
         Quando o país começou a se consolidar, no século 13, o reino de Castela se impôs aos outros territórios da região que hoje formam a Espanha. Por causa dessa liderança, o Castelhano, um dialeto com forte influência do Latim, acabou sendo adotado como língua oficial do novo país em 1492, com a unificação dos reinos que correspondem à Espanha atual. O termo espanhol procede do latim medieval Hispaniolus, denominação latina da Península Ibérica Hispânica.
A denominação do idioma como espanhol, em detrimento da forma castelhano, costuma gerar uma situação conflituosa. Sabe-se que na Espanha existem outros idiomas, tais como o Galego, Basco e Catalão. Assim, se você disser que fala Espanhol, pode estar subentendido que você também fala esses outros idiomas.
De acordo com a Constituição Espanhola de 1978, o Castelhano é considerado língua oficial em toda a Espanha, mas nas regiões onde há um idioma próprio, este possui valor co-oficial. Assim, torna-se possível compreender porque em lugares como na Catalunha ou no País Basco, por exemplo, o idioma co-oficial é falado no dia-a-dia.
A razão pela qual alguns países optam por chamar o idioma de Castelhano e outros de Espanhol pode ser política: você dificilmente vai ouvir um argentino dizendo que fala Espanhol, já que o nome remete ao período colonial. Por esse motivo, o termo Castelhano é mais usado na América do Sul. Já a forma Espanhol é comum no Caribe, no México e nas áreas de fronteira com outra grande língua, o inglês.
 Na Espanha, o uso dos termos depende da região: no norte, as pessoas referem-se à língua como Castelhano. Na Andaluzia e nas ilhas Canárias, o idioma é chamado de Espanhol.
Assim como os brasileiros não falam o português idêntico ao de Portugal, sabe-se que existem variações no modo de falar dos diferentes povos latino-americanos colonizados pela Espanha, mas nada que possa fazer-nos considerar qualquer dessas variantes como um idioma a parte.
Apesar de o espanhol ser um idioma falado em regiões relativamente distantes, a ortografia e as normas gramaticais asseguram a integridade da língua. As diversas Academias de Língua Espanhola são responsáveis por preservar esta unidade. A Espanha elaborou o primeiro método unitário de ensino do idioma, que é difundido por todo o mundo, através do Instituto Cervantes.

terça-feira, 24 de abril de 2012

De onde vêm?


De onde vêm?
Vejam algumas expressões curiosas  da linguagem que circulam até hoje entre nós e que marcam a riqueza histórica de nossa língua.
Algumas dessas matérias foram resgatadas de revistas especializadas  como LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO e AVENTURAS NA HISTÓRIA da Editora Abril. 
 Aliás eu recomendo esta revista. Se você puder assiná-la é um excelente investimento.
Um abraço a todos. aproveitem e ampliem seus conhecimentos!

1. “Sangue nos olhos”
Quanto mais vontade de vencer, melhor o termo é usado para caracte­rizar pessoas que são destemidas, amam desafios e encaram os obstá­culos com uma gana incondicional de superá-Ios. De acordo com Luís da Câmara Cascudo em Locuções Tradicionais do Brasil, um dos primeiros brasileiros notórios a osten­tar o atributo foi dom Pedro I - em Portugal, dom João lI. A origem da expressão também chegou ao país vinda de terras portuguesas. "Tan­to valia ser godo e neto dos antigos conquistadores como ter os olhos abrasados", escreveu o autor João Ribeiro. A diferença é que em Por­tugal o termo era usado em sinal de fidalguia. No Brasil, no entanto, ele denuncia homens audaciosos e corajosos. CAROLINA SILVA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

2. “Amarrar o bode”
Depois de preso, o bicho fica arisco e perigoso
 Quando dizemos que alguém amarrou o bode é porque a pessoa está de cara amarrada, mal-humo­rada, ranzinza e muito irritada. A origem da expressão deriva do próprio comportamento do animal que dá nome à expressão. Nor­malmente criados em liberdade perambulando pelo pasto, quando amarrados, os bodes se tornam impacientes e rebeldes e dão iní­cio a um verdadeiro berreiro. A expressão é usada, então, para indicar a insatisfação de alguém perante determinada situação. Mas o termo pode ainda ser usa­do para indicar o fim da liberdade (amorosa), no momento em que um casal resolve assumir um re­lacionamento sério. C. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

­3. “Sangria desatada”
 No século 16, era sangue para todo lado
 Ainda antes de Hipócrates, du­rante o século 5 a.C., os médicos tinham o costume de sangrar o paciente para expelir os agentes da doença que o acometia. Mas, às vezes, a prática saía pela culatra e o doente embalava num sangra­mento que podia o levar à morte. Essa hemorragia, também conhe­cida como fleborrexis, ainda era praticada no século 16. "É verdade que há pouco roguei em uma carta que não sangrasse mais!", escreveu a madre Maria Bautista à priora de Valladolid, na Espanha. Esse san­gramento descontrolado exige cui­dados rápidos e eficientes. Assim, quando dizemos que alguma coisa não é uma "sangria desatada", es­tamos querendo dizer que ela não precisa ser resolvida com urgência desmedida. JOANA SANTOS. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)


4. “Mundos e fundos”
Expressão surgiu das navegações espanholas
 Quando se diz que alguém prometeu "mundos e fundos", é porque essa pessoa fez promessas infundadas ou exageradas. A origem da expressão remonta às navegações espanholas. Segundo uma antiga promessa que rogava "O Céu pediu estrelas/ O pei­xe pediu fundura", os aventureiros tinham uma impressão abissal do mar. Para eles, a noção de mundo e da fundura do oceano era algo re­corrente e trivial no dia a dia - daí o termo com os dois exageros. Reafirma sobre mundo, o escritor José Alcânta­ra: "Boca do mundo é uma expressão típica da multidão anônima". J. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

 5. “Gato por lebre”
 Até Camões caía nesse tipo de golpe
 Levar gato por lebre é ser engana­do, levar algo sem valor acreditando ser bem mais caro. A expressão teve origem em Portugal, onde o "churras­quinho de gato" era bem mais apre­ciado do que por aqui. Os lusitanos gostavam tanto da carne do pobre bi­chano que, no século 19, a caçada aos gatos para fins culinários virou moda entre os estudantes de Coimbra.
Como a carne do felino era mais barata, algumas estalagens de Portu­gal e da Espanha serviam gato como se fosse lebre. Era uma prática tão co­mum que Luís de Camões, no Auto dos Enfatriões, escreveu: "Fantasia de don­zela / não há quem como eu as quebre / porque certo cuidam elas / que com palavrinhas belas / nos vendem gato por lebre." LíVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

6. “Preto no branco”
Expressão teve origem em outra, mais antiga
 Colocar o preto no branco é re­gistrar, por escrito, uma promessa ou acordo para que depois não se corra o risco de ficar o dito pelo não dito. De acordo com o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascu­do, essa expressão teria surgido no Brasil do século 19 como substituta para uma outra, bem mais antiga, datada da segunda metade do sécu­lo 9: cum cornu et cum alvende. Cornu significava tinteiro e alvende era o alvará, o decreto. Assim, a frase em latim faz referência a um decreto ou documento escrito e assinado. Na versão posterior e abrasileirada da expressão, preto significaria a tinta e branco, o papel. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

7. “Ir para a cucuia”
Cemitério é uma das origens da expressão
Quando alguma coisa termina mal, dizemos que "foi para a cucuia". Existem duas versões diferentes para explicar a origem desta expressão. A mais aceita refere-se ao antigo cemi­tério da Cacuia, localizado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O local foi inaugurado em janeiro de 1904 e, desde então, "ir para a Cacuia" tornou-­se sinônimo de "bater as botas". Aos poucos, no entanto, a expressão foi se generalizando e passou-se a utilizá-Ia também para se referir a outras situ­ações com finais nada felizes.
A outra explicação para o ditado vem do tupi. Na língua indígena, kui significa cair, ir para a decadência. A duplicação de kui teria resultado em kukui, que, por sua vez, deu em cucuia. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

8. “Torcer a orelha”
Frase teve origem com a deusa da memória
"Torcer a orelha" é o mesmo que arrepender-se, lastimar-se por não ter feito algo que poderia trazer bons resultados. A origem da expressão remota a Mnemosine, a deusa da me­mória. Segundo a mitologia, ela era a responsável por impedir o esqueci­mento das pessoas - e a orelha era o órgão dedicado a essa deusa grega. Assim, torcer as orelhas era uma forma de estimular a memória e ga­rantir que erros cometidos não fossem esquecidos. O gesto acabou virando um ato de autopunição. A expressão foi registrada pela primeira vez em 1533, na obra Romagem de Agravados, de Gil Vicente: "Nunca o nosso agravo fora, / Nem eu torcera a orelha”. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

9. “Dar uma banana”
 Gesto vulgar reflete desabafo ou ofensa
 O ato de erguer o punho direito cerrado com força, apontando o coto­velo de um jeito meio brusco, tem sido cada vez mais preterido em favor dos pesados palavrões usados no dia a dia. Acredita-se que a expressão "dar uma banana" não só surgiu depois, como foi inspirada no gesto ofensivo e vulgar. O acréscimo da fruta (com conotação fálica), no entanto, acon­teceu apenas em território brasileiro. Em Portugal, sua terra natal, o gesto é acompanhado de diferentes expres­sões: "fazer as armas de santo Antô­nio", "manguito" ou "dar manguito" - no país europeu, a referência às ar­mas da Ordem Terceira de São Fran­cisco, em que figuravam dois braços cruzados, tem a mesma intenção de xingamento. EDUARDO LUCENA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

10. “Do arco da velha”
Origem da expressão está ligada ao arco-íris
 Usada para designar histórias inacreditáveis, fora do comum, absurdas ou muito antigas e em desuso, a expressão tem origem nas páginas do Antigo Testamento. O termo se refere ao arco-íris que surgiu no céu após o grande dilúvio contado pela Bíblia. O arco de sete cores simbolizava a aliança entre Deus e os homens, representados por Noé. Mas, crítica a um acontecimento fantasioso ou distante da realidade, a alcunha foi criada também com base em ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras (possivelmente bruxas) ao lado de arco-íris. O termo velha surge, então, como uma tradução das forças adversárias da normali­dade, que aparecem ligadas à bru­xaria e aos malefícios à fecundida­de vegetal e animal. E. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

11. “Fazer de gato-sapato”
 Expressão pode ter surgido de uma brincadeira
 Quando alguém é tratado com desprezo, dizemos que a pessoa foi feita de gato-sapato. A origem mais provável para a alcunha está em um jogo antigo conhecido como gato­-sapato. Na brincadeira, uma criança de olhos vendados tinha de agarrar um colega. Enquanto tentava, outras crianças batiam nela com sapatos. Daí a expressão "fazer de gato-sapato".
 Já o escritor Marcelo Duarte apon­ta outra possível origem para a ex­pressão. Segundo ele, tudo poderia ter começado numa época em que era moda abreviar palavras. Sapato, que se escrevia com "ç", era reduzido para "çato". Dependendo da letra de quem escrevia ou da atenção de quem lia, "çato" poderia ser facilmente confun­dido com "gato". LÌVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

12. “Engolir sapo”
 Só brasileiros "engolem" o anfíbio
 A expressão engolir sapo, usada quando somos obrigados a tolerar coisas desagradáveis sem podermos responder, é um regionalismo típico do Brasil. Mas por que engolir sapo e não cobra, borboleta ou jacaré? De acordo com Luís da Câmara Cascudo, em Dicionário do Folclore Brasileiro, o sapo é indispensável nas bruxarias. Acreditava-se ainda que existia uma pedra na cabeça dos anfíbios eficaz nos sortilégios. Ou seja, além de gos­mento, os bichos eram associados às forças ocultas.
Há também um episódio bíblico que conta que Deus castigou um faraó egípcio enviando um enxame de rãs, que invadiram casas e fornos. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)


13. “Perder as estribeiras”
Expressão surgiu nos jogos de cavalaria
 Quando uma pessoa se descon­trola ou fica momentaneamente de­satinada, dizemos que ela "perdeu as estribeiras". A origem dessa expres­são está nos jogos europeus de cavalaria dos séculos 15 a 17. Literalmen­te, perder as estribeiras significava ficar sem contato com os estribos, aros que pendem de cada lado da sela do cavalo e são utilizados como ponto de apoio para o pé do cavaleiro.
 Nas antigas corridas de argoli­nhas, torneios em que os cavaleiros a galope precisam atingir com a pon­ta de uma lança as argolas pendu­radas em fios, perder as estribeiras desclassificava automaticamente os cavaleiros do páreo. Já nas corridas de cavalos sertanejas do Brasil, quem co­metesse esse erro era zombado e tinha que pagar a bebida dos companheiros como castigo. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

14. “Da pá virada”
 Era assim que se falava de uma pessoa desocupada
 Atualmente, a expressão "da pá vi­rada" pode ser usada com vários signi­ficados bem diferentes. Ela serve, por exemplo, para qualificar uma criança travessa e inquieta. Também se fala assim de pessoas de má índole e que são criadoras de casos. Além disso, a frase ainda pode servir para elogiar indivíduos corajosos e competentes.
Em sua origem, porém, essa frase tinha um único significado. Uma pá de pedreiro virada, voltada para o solo, é um instrumento inútil, sem nenhuma serventia. Assim, a construção verbal era utilizada para designar indivíduos vadios, sem ocupação, que não traba­lhavam e, da mesma maneira que uma pá virada, não serviam para nada. De acordo com o historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), a ex­pressão é brasileira, e provavelmente surgiu no século 19. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)


15.“Quebrar o galho”
Duas histórias explicam a origem da expressão
Quando alguém nos ajuda a re­solver um problema, dizemos que essa pessoa nos "quebrou um ga­lho". Existem duas versões diferen­tes para explicar a origem desse re­gionalismo tão usado no Brasil. Um dos significados da palavra galho é "conjunto de riachos que se reúnem para formar um rio". Assim, para os viajantes, "quebrar um galho" significa abrir um caminho em um afluente de rio para desembocar de forma mais rápida no rio principal.
A segunda versão está ligada a Exu Quebra-Galho, entidade da umbanda que, acredita-se, exerce forte domínio sobre as mulheres. Exu é procurado por muitos homens para "quebrar galhos" amorosos com trabalhos de amarração. LÌVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)


16. “De ara que”
Insulto está ligado a bebida alcoólica árabe
Uma coisa "de araque" é sem valor ou de mentira. A origem desse insulto está em uma bebida chamada "arak", trazida ao Brasil por imigrantes ára­bes de origem não-muçulmana. Trata-­se de um licor de alto teor alcoólico, que, puro, pode chegar a 80% de álco­ol. Em geral, ele é diluído em água.
 Por ser muito forte, o drinque é capaz de provocar grandes bebedei­ras em pessoas não acostumadas. AI­coolizadas, elas começam a falar bes­teiras. Daí o surgimento da expressão pejorativa "de araque" para se referir a algo que é tão desacreditado quanto uma pessoa de porre. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

 17. “ Olha o passarinho”
Ave na gaiola deixava criançada imóvel na hora da foto
 Quando a fotografia foi inventada, a im­pressão da imagem no filme não se da­va rapidinho como hoje. Ver a foto nu­ma telinha digital segundos após ela ser tirada, podendo apagá-Ia e fazer de no­vo se alguém piscou, tampouco passava pela cabeça dos fotógrafos. Por isso po­sar era um processo bastante lento.
Na metade do século 19, os fotogra­fados tinham de permanecer parados por até 15 minutos a fim de que sua imagem fosse impressa dentro da má­quina. E fazer as crianças ficarem imó­veis por tanto tempo era um verdadei­ro desafio. Por isso, gaiolas com pássa­ros ficavam penduradas atrás dos fotó­grafos e chamavam a atenção dos pe­quenos, tornando mais fácil a brinca­deira. Assim, a expressão "olha o passa­rinho" ficou conhecida como a frase di­ta pelo fotógrafo na hora da pose. A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

­18. “As paredes têm ouvidos”
 Expressão se originou de um antigo provérbio persa
 Tanto ocidentais quanto orientais con­cordam com a expressão que alerta para os perigos de sermos escutados sem saber. O dito existe, nessa mesma for­ma, em línguas como alemão, francês e chinês. Sua origem remonta a um anti­go provérbio persa que dizia: "As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos".
Um dos primeiros registros de provér­bio semelhante em inglês aparece no clás­sico medieval The Canterbury Tales, es­crito por Geoffrey Saucer entre 1387 e 1400. Saucer descreve algo como "aque­le campo tinha olhos, e a madeira tinha ouvidos" em um dos contos.
A expressão ganhou um sentido quase literal, que pode ser teste­munhado até hoje em castelos me­dievais e, principalmente, palácios re­nascentistas. Muitos deles - como o Palácio dos Doges, em Veneza, Itália ­escondem dutos e aberturas pelas pare­des, construídas na época para possi­bilitar a audição, em outras salas, de encontros políticos a portas fechadas. ADRIANA LUI. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

19. “Dar uma canja”
 Iniciais do Clube dos Amigos do Jazz originaram o dito
 Nos anos 60, o Clube dos Amigos do Jazz, entidade brasileira formada por fãs do gênero, era conhecido pela sigla Canja. Um dos costumes dos membros do clube era deixar seus instrumentos à disposição. Assim, os freqüentadores do local podiam se aventurar em apre­sentações de improviso. De "tocar no Canja” para "dar uma canja" foi um pulo - e hoje todo músico que partici­pa, de graça, de uma apresentação não planejada está "dando uma canja.
Corre entre músicos outra história para explicar a expressão: ela teria vin­do da famosa distribuição de sopa fei­ta aos mais pobres aqui no Brasil. As­sim como o prato era distribuído gra­tuitamente, os artistas que não rece­biam para subir ao palco estavam "dan­do uma canja”. A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)



20. " Fazer o diabo a quatro”
Dizemos que fulano "fez o diabo a qua­tro" numa festa, por exemplo, quando queremos dizer que ele fez algo inacre­ditável ou uma grande bagunça. De acor­do com Reinaldo Pimenta, autor do li­vro A Casa da Mãe Joana, que explica a origem de palavras e expressões, esta nas­ceu na França (o original é fàire le dia­ble à quatre) durante a Idade Média.
 Nas peças de teatro daquela época, um dos personagens que sempre apare­cia era o diabo. Quando o autor das re­presentações queria fazer algum barulho, criava papéis para um ou dois diabos. Quando a idéia era causar espanto real­mente, fazer uma verdadeira bagunça na peça, escalava quatro diabos. "Daí o 'dia­bo a quatro' significar coisas espantosas, grande confusão", escreve Pimenta. CLÁUDIA DE CASTRO LIMA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

21. “Estar na pindaíba”
Liso, na pior, sem um tostão furado. Es­tar ou andar na pindaíba é não ter di­nheiro nem para õ essencial, passar por uma fase de grande penúria financeira.
Há pelo menos três explicações para a origem da frase. Uma delas é do lingüis­ta Batista Caetano, autor de Vocabulá­rio. Segundo ele, pindaíba é uma pala­vra de origem tupi que significa "vara de anzol" (pinda é anzol e iba, vara). Estar na pindaíba era dispor apenas de uma vara para a sobrevivência.
A outra versão, também de origem tupi, é do filólogo João Ribeiro, em A Língua Nacional: pindaíba era uma sel­va densa de cipós onde, às vezes, os ín­dios ficavam presos - ou seja, em gran­de dificuldade. A terceira explicação, por fim, é de Nei Lopes, estudioso de lín­guas africanas. De acordo com ele, a fra­se se incorporou ao português pela lín­gua quimbundo, falada em Angola. Pin­daíba viria de uma junção de mbinda, "miséria", e uaíba, "feia" - e significaria estar na mais completa miséria. BRUNO COSTA. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

22. “Vale quanto pesa”
Duas origens são aceitas - uma delas é brasileira
A expressão significa dar valor a algo por meio de seu peso e substância. "Quer dizer que você não está pagan­do mais do que uma coisa de fato vale, nem um centavo a mais por grama ine­xistente", afirma Reinaldo Pimenta, au­tor de A Casa da Mãe Joana, livro que desvenda a origem de expressões.
Há duas origens para ela. Uma re­monta a uma lei medieval de povos do norte da Europa, que determinava que o assassino deveria pagar uma quantia em ouro ou prata à família do morto, calcu­lada sobre o peso do falecido. A outra ver­são é bem brasileira: na época do comér­cio de escravos, os homens ganhavam va­lor proporcional à idade e ao peso, características relacionadas à sua força. Por is­so, nos mercados de escravos, havia ba­lanças próprias disponíveis para aferir os quilogramas da "mercadoria”.  ADRIANA LUI. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

23. “ Fazer uma vaquinha”
Expressão está relacionada ao futebol e ao jogo do bicho
O ato de juntar algumas pessoas para co­letar um dinheirinho passou a ser conhe­cido como "fazer uma vaquinha' no sé­culo 20 por causa do futebol. Nas déca­das de 20 e 30, quase nenhum jogador de futebol ganhava salário - luxo só garan­tido aos atletas do Vasco da Gama.
 Nesses tempos bicudos, muitas ve­zes a própria torcida reunia-se a fim de arrecadar, entre si, um "prêmio" para agraciar os craques. A grana era paga de acordo com o resultado obtido em campo. Os valores dessas "bolsas" as­sociavam-se aos números do jogo do bicho, loteria criada nos fins do Impé­rio. Se arrecadassem 5 mil-réis, por exemplo, chamavam o prêmio de "um cachorro", já que 5 é o número do ca­chorro no jogo. Dez - mil réis eram "um coelho". Quinze mil-réis, "um jacaré". Vinte mil, "um peru". Vinte e cinco mil, o prêmio máximo, era chamado de "uma vaca". Nascia a expressão "fa­zer uma vaquinha". A.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

24. “Rodar a baiana”
 Quando alguém ameaça com um "pare com isso ou eu vou rodar a baiana", qual­ quer pessoa discreta pára na hora ­ou, pelo menos, toma cuidado. A ameaça, na verdade, consiste em dar um escândalo público.
 Diferentemente do que possa parecer, essa expressão não tem sua origem relacionada à Bahia, e sim ao Rio de Janeiro. A região era palco, já no início do século 20, de famosos desfiles dos blocos de Carnaval.
 No meio desses blocos, alguns espertinhos tascavam beliscões nas nádegas das moças que desfilavam. Para acabar com o problema, alguns capoeiristas passaram a se fantasiar de baianas, com direito a saia roda­da e turbante na cabeça. Assim, ao primeiro sinal de desrespeito, apli­cavam um golpe de capoeira. As pes­soas que assistiam aos desfiles não entendiam nada: só viam a baiana rodar - e começar toda a confusão.. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

25. “Cabra da peste”
Empregada para designar um indivíduo bom, confiável e, principalmente, corajoso, es­sa locução tipicamente nordestina em nada tem a ver com a coitada da fêmea do bode. Cabra, no Nordes­te brasileiro, é sinônimo de homem.
Assim, é comum na região expres­sões como "cabra bom", para se re­ferir a alguém decente, ou "cabra besta", para alguém considerado um orgulhoso sem razão.
Mas por que "da peste"? A ra­zão é que epidemias eram um mal muito comum na região no come­ço do século 20 e, com a falta de re­cursos da população, tornavam-se muito perigosas e levavam à morte.
Dessa forma, quando alguém ficava doente, todos se afastavam com medo de serem contaminados pelo "cabra da peste". A expressão acabou, mais tarde, tornando-se si­nônimo de alguém que, por sua va­lentia, causa medo nas pessoas, a ponto de afastá-Ias. LL. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)


26. “Cor de burro quando foge”
 Frase é inspirada em ditado centenário
Várias espécies animais se trans­formam quando ameaçadas. O ca­maleão muda de cor. O polvo solta uma tinta escura que funciona como camuflagem. Não é esse o caso do burro. Portanto, a frase, muito usada em todo o Brasil para tratar de uma cor indefinida, não tem explicação no comportamento do bicho. A resposta mais provável para a origem do termo está em um registro feito no começo do século 20 pelo gramático Antônio de Castro Lopes (1827-1901), que docu­mentou o uso popular da construção "corro de burro quando foge". A repe­tição provocou uma frase que não faz o menor sentido, e que mesmo assim ficou consagrada. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

27. “Onde Judas perdeu as botas”
 Lenda sobre o apóstolo deu origem à expressão
A Bíblia não faz nenhuma refe­rência às botas de Judas, o apósto­lo que, de acordo com os relatos do Novo Testamento, entregou Jesus Cris­to aos guardas romanos em troca de 30 moedas de prata - e depois, arre­pendido, acabou se enforcando.
Mas, de acordo com uma lenda popular, Judas escondeu seus calça­dos junto com o dinheiro, e esse local nunca foi encontrado. Daí que "onde Judas perdeu as botas" faz referência a um local difícil de ser encontrado. "Muitas vezes, algumas expressões idiomáticas ganham corpo baseadas em crenças da religiosidade popular, sem ter tradição bíblica ou teológica", diz Josias da Costa Júnior, mestre em Ciências da Religião da Universidade Estadual Paulista (Unesp). J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

28. “Negócio da China”
Expressão surgiu com as Guerras do Ópio
Não é necessário ter muita ima­ginação para pensar no potencial de venda de qualquer lojinha em um país com 1,3 bilhão de pessoas. É por isso que, tanto hoje como no passado, os grandes países produtores querem atuar na China. No século 19, esse mercado gigantesco foi assediado pela Inglaterra, que estava no auge da Revolução Industrial e precisava de consumidores para seus produtos.
 Só que era difícil ter acesso ao país, que permanecia fechado ao Oci­dente. O jeito foi partir para a briga. Nessa época, aconteceram as Guerras do Ópio, em duas etapas (1839-1842 e 1856-1860). Vitoriosos, os ingleses impuseram o monopólio da comer­cialização do ópio com os chineses e ainda ocuparam a ilha de Hong Kong, só devolvida em 1997. Um negócio da China mesmo. JUAN TORRES. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

29. “Uma andorinha só não faz verão”
Frase vem de livro do filósofo Aristóteles
Geralmente, as expressões idiomá­ticas têm origem popular. Não é este o caso. A primeira menção conhecida ao ditado está no livro Ética a Nicômano, de Aristóteles (384-322 a.C.). Na obra, o filósofo grego escreve que "uma andorinha só não faz primavera", no sentido de que um indivíduo não deve ser julgado por um a.t° isolado.
 A escolha da andorinha não é ca­sual. Na busca por calor, essas aves sempre voam juntas, em grupos de até 200 mil animais. As maiores aglome­rações de andorinhas são vistas nas Américas. Em outubro, quando come­ça a esfriar no norte, elas percorrem 8 mil quilômetros até a América do Sul, de onde voltam em abril. J.T. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

30. “Cair nos braços de Morfeu”
Frase é inspirada no filho do deus grego do sono
De acordo com a mitologia da Gré­cia antiga, Morfeu era um dos mil fi­lhos de Hipno, o deus do sono. Assim como o pai, era dotado de grandes asas, que o transportavam em poucos instantes, e silenciosamente, aos pon­tos mais remotos do planeta.
O nome Morfeu quer dizer "a forma" e representa o dom desse deus: viajar ao redor da Terra para assumir feições humanas e, dessa maneira, se apresentar aos ador­mecidos durante os seus sonhos. É por isso que se costuma dizer, há vários séculos e nas mais diversas línguas: quem cai nos braços de Morfeu faz um sono tranquilo e reconfortante, como se realmente estivesse na companhia dessa di­vindade. ÉRICA GEORGINO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

31. “A preço de banana”
Portugueses criaram a expressão no Brasil
Usamos a frase "a preço de bana­na" quando encontramos um artigo com preço baixo, mas tão baixo, que nem dá vontade de pechinchar. Essa expressão remonta ao descobrimen­to do Brasil: ao chegar aqui, os por­tugueses encontraram bananeiras produzindo naturalmente, sem que fosse necessário plantá-Ias.
 Durante a colonização, era comum encontrar a fruta em propriedades agrícolas e quintais, pelo simples mo­tivo de que as bananeiras são plantas de fácil cultivo em climas quentes e úmidos. A abundância fez com que a fruta não atingisse altos valores comerciais, e assim a banana virou sinônimo de produto barato. E.G. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

32. “Sair à francesa”
A França detesta a expressão portuguesa
Quando alguém vai embora de fininho, dizemos que "saiu à france­sa". O único consenso a respeito da origem da expressão é que ela já era recorrente em Portugal no fim do sé­culo 18. Décadas depois, os especia­listas decidiram que a frase era uma derivação da palavra "franquia", um imposto sobre exportação cujo paga­mento agilizava a saída dos portos.
 Uma segunda tese diz que a frase surgiu na época em que a língua fran­cesa era muito pouco conhecida em Portugal. Por isso, dava no mesmo deixar uma reunião sem se despedir ou dizendo "adieu". Os franceses é que não gostaram nada da frase. Para eles, "sair à francesa" virou "sair à inglesa". Isso é que é política de boa vizinhança! LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

33. “Cavalo paraguaio”
Frase usada no futebol teve origem no turfe
Quem é fã de futebol provavel­mente já chamou de "cavalo pa­raguaio" um time que começa um campeonato vencendo as partidas, mas perde desempenho ao longo dos jogos. A expressão nasceu no turfe, que utilizava a frase com o mesmo sentido. Ao longo do tempo, ela se transferiu para o mundo da bola.
 Mas por que paraguaio? A nacio­nalidade dada aos pobres cavalos e times de futebol que decepcionam a torcida vem do fato de nós, brasileiros, atribuirmos uma péssima fama aos produtos vindos do Paraguai. Seriam sempre objetos falsificados, que pare­cem funcionar bem no começo, mas logo apresentam problemas. L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

34. “Bode expiatório”
Antigos rituais judaicos inspiraram a expressão
Atualmente, chama-se "bode ex­piatório" uma pessoa inocente sobre quem recai a culpa de algum acon­tecimento ou calamidade. A origem dessa expressão está registrada na Bíblia (mais precisamente no livro Levítico, capítulo 16) e remete a um antigo ritual da tradição judaica denominá-lo "Dia da Expiação". Funcionava assim: os sacerdotes levavam ao templo de Jerusalém dois bodes. Por sorteio, escolhia-se um deles para ser degolado e quei­mado em sacrifício ao Senhor, o outro animal recebia todos os pecados cometidos pela comunidade. O sacerdote colocava a mão sobre a cabeça do bicho e confessava as faltas das pessoas. Logo depois, o bode era abandonado ao relento no deserto. Com isso, o povo de Israel ficava purificado. LÍVIA LOMBARDO. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

35. “Chorar as pitangas”
Frase é versão brasileira de um provérbio português
Desde suas origens, essa expres­são tem o sentido de "queixar-se", "lamuriar-se". Ela surgiu no Brasil como uma adaptação, influenciada pelos povos indígenas, de uma frase portuguesa muito usada entre os lusi­tanos: "chorar lágrimas de sangue".
Na língua tupi, a palavra "pitan­ga" significa "vermelho". Assim, cho­rar as pitangas seria o mesmo que verter muitas lágrimas, até os olhos ficarem avermelhados. De acordo com o folc1orista Luís da Câmara Cascudo, em seu livro Locuções Tra­dicionais do Brasil, "a imagem asso­ciada impôs-se: 'chorar pitanga' pelo lusitano 'chorar lágrimas de sangue', na sugestão da cor". L.L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

36. “Na rua da amargura”
 PALAVRAS QUE TÊM ORIGEM NA AGONIA, NÃO SÓ QUANDO RELACIONADAS À MORTE
 Estar na "rua da amargura" é padecer de grande sofrimento, en­frentar dissabores na vida. A ex­pressão alude à caminhada de Cris­to, coroado de espinhos e vergado por pesada cruz, desde o Pretório de Pilatos - onde foi condenado - até o alto do Calvário, onde foi crucificado. Calvário, Calvaria em latim, é Golgota aramaico. Em grego, é Kraniou Topos, a colina ou platô onde havia            uma pilha de crânios - ou o aci­dente geográfico parecido com um crânio; calva é o crâ­nio, como você sabe.
 Esse tenebroso percurso, reverenciado pela Igreja como Via Sacra, possui 14 esta­ções, cada uma descrevendo uma cena da Paixão que deve merecer contrita me­ditação do fiel católico.
Truculentos soldados roma­nos açoitando Cristo, a terna presença de Maria, o socor­ro de Simão Cireneu e o alívio dado por Maria Madalena.
Na linguagem comum, e mal comparando com tamanho padecimen­to, também nós, pobres humanos, co­nhecemos momentos,de aflição e so­ mos obrigados a cumprir trajeto áspero e doloroso. O lenitivo,          nessas jornadas, é recordar o antigo ditado de que, as­ sim como não há bem que não se acabe, não há mal que sempre dure.   Márcio Cotrim. (LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO )


37. “Enfiar o pé na jaca”
EXPRESSÃO POPULAR GANHA CONTORNOS PITORESCOS NA PESQUISA POR SUA ORIGEM
 Quem enfia o pé numa jaca vai ter dificuldade em romper a casca da fruta. Se conseguir e chegar à polpa, pode saboreá-Ia, como muita gente faz, livrando-se dos caroços em cada gomo. Mas, realmente, não é a melhor maneira de comer jaca, há outras mais Civilizadas...
Essa rude opção alimentar, porém, nada tem a ver com a expressão enfiar o pé na laca. A história seria bem outra.
Antigamente, os tropeiros paravam nas vendinhas do caminho para molhar a garganta com uma pinga. Quando se excediam e enchiam a cara, já bebuns, na hora de pegar o cavalo para ir embora às vezes acontecia, ao subir no animal e jogar a perna esquerda para montá-Io, errar e pisar no jacá - o cesto que levava as mercadorias - e, não raro, esborrachar-se de cara no chão.
Daí teria nascido a expressão: quando alguém bebia demais, dizia-se que enfiara o pé no jacá - no jacá! Jaca, a fruta, não tem nada com isso, nem que a novela da Globo quisesse enquanto esteve no ar...  Márcio Cotrim. (LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. SEGMENTO )
 

38. “Torcer o pepino”
 Provérbio chegou ao Brasil com os portugueses
 O provérbio "É de pequeno que se torce o pepino" é usado para transmitir a ideia de que, quanto mais cedo se ensina, melhores são os resultados, de que é na infância que se educa. Trata-se de um pro­vérbio antigo, que chegou ao Brasil, provavelmente antes de 1600, trazi­do pelos portugueses. Os lusitanos, porém, preferiam a variação "De pe­quenino, se torce o pé ao pepino".
Como o pepino era raríssimo em Portugal nesse período, tudo indica que o provérbio tenha se originado na França. De acordo com o escritor Luís da Câmara Cascudo, no livro Locuções Tradicionais no Brasil, pepi­no também podia significar, para os franceses, sentimentos como a pai­xão e os caprichos amorosos. L. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

39. “Onde a porca torce o rabo”
Camões já utilizava essa expressão em 1556
Usada para se referir a uma si­tuação difícil, cuja solução exige ha­bilidade, a expressão "Onde a porca torce o rabo" tem como explicação mais provável o costume antigo de torcer o rabo dos porcos quando eles incomodavam com seus guin­chos. Esperava-se que, assim, eles se calassem. Esses momentos de silêncio foram associados, então, a  momentos de tensão, os quais aca­bam exigindo concentração.
O certo é que essa expressão já era popular em Portugal em mea­dos de 1500: Podemos encontrá-Ia no Disparates da Índia, de Luís de Camões, escrito por volta de 1556:
"Na paz mostram coração'; Na guerra mostram as costas;! Porque aqui torce a porca o rabo". L. L. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

40. “Memória de elefante”
Inteligência do animal deu origem à expressão
 Empregada para elogiar quem tem facilidade de se lembrar de acontecimentos, a expressão tem a ver com a capacidade do animal de reconhecer rotas e outros ele­fantes mesmo quando separados por décadas. Seguindo essa versão, uma frase do escritor Hector Saki, de 1910, ajudou a popularizar a ci­tação: "Mulheres e elefantes nunca esquecem uma ofensa". Nascido em Burma, ele era familiarizado com o animal. O filme No Caminho dos Elefantes, de 1954, mostra a histó­ria de uma mansão construída no Ceilão, na rota que esses animais faziam para beber água. Embora tivessem sido guiados por outros caminhos, eles sempre refaziam o original. CAMILA STAHELIN. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)
 

41. “Presente de grego”
 Cavalo de Troia motivou o surgimento da frase
 O termo, usado quando se re­cebe algo indesejável, tem ligação com a lendária Guerra de Troia. Os gregos, fingindo abandonar o conflito, deixam um cavalo de ma­deira nas muralhas de Troia, que acaba levado para a cidade pelos moradores. À noite, os soldados escondidos no cavalo derrotam os troianos. Ao narrar a guerra, Virgílio escreveu, no século 1 a.C.: "Temo os gregos até quando tra­zem presentes". No Brasil, uma das mais antigas referências é de Machado de Assis, em 1880: "Certo é que os diamantes corrompiam­-me um pouco a felicidade; mas não é menos certo que uma dama bonita pode muito bem amar os gregos e os seus presentes", C. S. (AVENTURAS NA HISTÓRIA - Ed. Abril)